quarta-feira, abril 1

Chefe mas pouco

Em Portugal há um ditado que reza o seguinte: "patrão fora, dia santo na loja". Trocado por miúdos, significa basicamente que quando o chefe se ausenta, estica-se a preguiça entre as 9h e as 17h, e empurra-se o trabalho com a barriga.
A motivação é matéria prima escassa por terras lusas. Normalmente recorremos à importação. Mas percebe-se. Somos um povo fatalista, povo do fado, um povo que sofre, que é sensível, e que , ao contrário do que se possa pensar, é profundamente existencialista. Não somos como os outros, não. Nós questionamos muito mais que o sentido da vida. Questionamos: "porque me hei-de levantar de manhã?, porque é que hei-de limpar algo que se vai sujar outra vez, porque me hei-de esforçar mais? qual o sentido disso, qual o objectivo? aonde me leva?". Enternecedor.
Mas ambiciosos, isso somos. Desde que não dê muito trabalho, batemos todos os rankings em ambição. Desde a Dr.ª Lurdes, empregada doméstica, casada com afamado canalizador, e que ambiciona ser 1ª dama, comportando-se como tal todos os dias (só para treinar); passando pela Drª Sofia - uma Educardora de Infância que trabalha umas boas 3 horas por dia, e cujo grande sonho é pertencer ao jet set, para ser importante a valer e lhe oferecerem umas maminhas novas como as da Maya; terminando no Dr.º Ricardo, que serve hámburguers no Macdonalds, é feio de verdade e que sonha vir a substituir o Hefner na mansão da playboy, trocando os bifes por mónicas sofias.
Mas o maior sonho de todos, o mais acalentado por todos é mesmo ser patrão. Mandar nalguma coisa. Isso é que era. Trabalhar só quando nos apetece, ter montes de dinheiro, mandar os outros fazer o que não gostamos, ser automaticamente respeitado, em suma: subir na vida.
Eu já subi na vida. Por isso agora o que eu gostava mesmo era aquela parte de fazer só o que eu quisesse, de mandar os outros fazerem o que eu não gosto, e principalmente aquela parte do ter montes de dinheiro. Era bem catita!


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