quarta-feira, dezembro 30

O ano defunto

- Ainda não foi desta que me espetei de carro - embora tenha imenso jeito para isso, ou vá lá, algum potencial. Mas no início do ano tive mesmo quase quase. Filho da puta do ângulo morto.
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Fiz dois cursos de escrita criativa, mas ao invés de um convite para a fama e o estrelato em particular, tudo o que consegui foi um possível convite para ir trabalhar para torres vedras. mérito não do engenho com a pena, mas do meu ar responsável - que aliás consegue enganar muita gente, mas como o convite não se concretizou, secalhar não enganou o suficiente.
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Visto que fui 3 vezes ao teatro e umas outras 3 vezes a concertos de música clássica em que as bandas já não se podem chamar bandas, mas sim orquestras, este foi um ano de alguma cóltura!! Aliás muita cóltura, porque criei este mimo de blog, que é mais um claro e evidente sinal de toda a minha cóltura. (é tanta a cóltura que o blogger achou por bem evidenciar esse facto e não me deixa agora tirar o bold disto, está bem, assim seja).
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Ainda na senda da cóltura, este ano vi alguns clássicos e revi outros: grease, tal canal, o padrinho, o sentido da vida dos monthy, etc. E fui também a museus - só porque sim, e fica sempre bem.
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A minha avó que é uma velha gaiteira e não pode ver nada, para não ficar atrás da ana maria lucas, decide também ela ter um avc. por causa disso, a minha mãe regressa à terrinha, aí permanecendo grande parte do tempo que vai de abril até novembro. e eu, com isto tudo, vi-me a braços com o ter de lavar as cuecas sujas do meu pai, e com um curso avançado em ferro de engomar 3.
- Fui a dois casamentos. E duas foram também as vezes que cortei o cabelo este ano, nada mau.
- Fui pela primeira vez à bola e senti-me na pele de um míope em estado avançado - nunca percebia onde andava a bola, e no que dependesse de mim, tanto podia ser um homem a chutá-la, como uma hiena no cio - porque eu de qualquer forma, não via um boi.
- A minha mãe virou sexagenária mas eu é que comprei o meu primeiro creme anti rugas.
- A nível de animais não foi um ano fácil: atropelei um gato de rua (não morreu, mas ainda assim, que grande foda-se) e perdi uma gatinha cá de casa, que estúpida como tudo me decide fugir frente à porta do veterinário (volta para casa imediatamente sua parva, ou achas que na rua ha whiskas saquetas?), e ainda apanhei um susto enonorme com uma das minhas cadelas, que ficou muito doente de repente, forçando-me a levá-la de urgência ao vet. (só rugas de desgostos e preocupações. note to self: reforçar o anti-rugas)
- Apanhei o maior e mais estúpido escaldão da minha vida (note to self: reforçar à grande o creme anti-rugas).
- Chique que sou, este ano andei por tróia de catamaran, comi fondue de carne e peixe cozinhado em vinho, fui de férias a Sevilha, e passei um fim de semana num bungalow supé catita e móderno!
- Foi um ano de muitos elogios, elogios de clientes, elogios ao meu trabalho, elogios de admiradores, elogios. e foi um ano em que de muitas formas vi reconhecida em mim, capacidades várias, e senti que posso fazer a diferença nos sitíos por onde passo, e isto é para lá de bom, é óptimo.
- Voltei a andar de bike este ano, e sem tralhar nenhuma vez! Já me tinha esquecido o quão fixe é andar de bike.
- Fiz topless - mas só para um casal de alemães.
- Estou mais rica um amigo.
- Para além do casal de alemães andei também a mostrar as mamocas à moçoila que trabalha no spa, sim que eu fui a um spa este ano!
- O meu festival de verão este ano só aconteceu em dezembro: super bock em stock, e gostei muito do que fui ver.
- Voltei a tentar aquilo do peixe cru, mas esta religião ainda não me conseguiu convencer.
- Este ano dei prendas à família toda, comprei pai natal e restante bonecada.
- E vi-me perseguida pela polícia - a culpa não foi minha, era o meu irmão que estava a conduzir!

sexta-feira, dezembro 18

People are like wardrobes


De cada vez que tento arrumar o meu guarda-roupa na tentativa de eliminar aquilo que já não uso, debato-me com o mesmo problema: o que deixar de fora?

Tenho peças com mais de 10 anos que não consigo eliminar nem por nada. Essencialmente por motivos práticos: continuam úteis.

Tenho outras que quase nunca uso, mas que teimo em achar que lhes posso dar uma segunda oportunidade, que às vezes chega, e às vezes não.

Vergonhosamente também tenho nos meus cabides peças por estrear, momentos de encantamento têxtil à frente de um espelho num provador de loja, em que se trocam juras de amor e instruções de lavagens, murmuram-se "faço-te e aconteço-te's", mas que depois não passam disso. São paixões crónico-platónicas: só sobrevivem atrás de biombos (graças a Deus ontem tive juízo e não comprei aquela mini-mini saia que vi na Zara, e que provavelmente não usaria em mais lado nenhum, a não ser para ir do quarto até à casa de banho, embora, diga-se em sua defesa, me ficava deveras bem).

Agora roupa que nunca usei, recuso-me a dar. Tenham lá paciência! Vejo a coisa mais ou menos numa lógica de amortização do custo, isto é, se compro um casaco e ele me custa 50€, basta que o use duas vezes e é como se passasse a ter custado só 25€ e por aí adiante. Estúpido? Talvez, mas também não é para ter lógica.

A roupa reflecte a nossa personalidade. É uma extensão de nós próprios. Normalmente é nos apontado um determinado estilo - ou falta dele, tal como nos é apontada uma determinada maneira de ser. Somos um aglomerado de vivências que têm ligação directa para as nossas gavetas e armários.

Exemplo? Tenho um red hot dress, de costas abertas à espera de ser usado - e que há pouco tempo seria incapaz de comprar, quanto mais usar, e por outro lado continuo a usar um casaco de malha largueirão e velho que era da minha mãe. Meaning? Que me tenho sentido progressivamente melhor na minha pele, mas que ainda escondo e protejo bastante.

Parte da roupa que tenho há 10 anos reflecte traços de personalidade que mantenho. Parte da roupa nova que tenho, reflecte aquilo em que me estou a transformar, e aquela roupa que uso e re-uso vezes sem conta representa as minhas principais características.

Próxima compra? Galochas. Quero expressar a minha comicidade em borracha.



segunda-feira, dezembro 14

Ao início, a neura é um bicho inofensivo. Fofo até. Não faz mal nenhum e até lhe achamos alguma piada, embora saibamos que não serve rigorosamente para nada a não ser, quanto muito, para fazer vista, ou uns truques engraçados.

Ao início a neura é isto:

E ninguém tem medo disto. Todos se atrevem a fazer umas festinhas e a passar a mão pelo pêlo. O costume.

Mas se lhe juntarmos uns ingredientes, por exemplo, uma tpmzinha inofensiva, um frio de rachar que nos faz duvidar da sanidade mental daqueles tipos, os esquimós, uns planozecos assim importantes sairem furados, aquele mail que não chega, um namorado que nos vem dizer que andou a sonhar com a ex, e sei lá, a convivência diária familiar, a neura é bichinho para ficar assim:



Ou seja, ligeiramente maior, e já a meter mais nojo que outra coisa. Mas ainda assim, a neura é passível de ser acarinhada e alimentada, de continuar sempre a crescer, até, qual balão, voar sem rumo e ir embater na parede ou poste mais próximo.

Agora, como gaja altamente evoluída que sou, e sem recurso a livros de auto-ajuda, o que ando a tentar fazer com toda esta neura e depressão mal cheirosa que se apoderou de mim, é , em vez dela me transformar nisto:

Passar eu antes a tirar partido dela. Usando-a eu a ela, ao invés de deixar que ela se apodere de mim. E sempre, sempre, em grande estilo.



sexta-feira, dezembro 11

quarta-feira, novembro 25



se algum dia me casar, em vez das bavaroises, das tartes de não sei quê, as delícias , as mousses e etc, etc, dou mas é disto aos convidados que se lixam: monstrinhos das bolachas tãaaaaaaaaooo fofos!!

mais aqui.

terça-feira, novembro 24

segunda-feira, novembro 16

Deixai vir a mim as cebolinhas

Sábado pus-me a ver o filme Seven Pounds - a minha irmã garantiu-me que este era daqueles capaz de fazer chorar as pedras da calçada, de tão triste que era. Usei o limpa pára brisas e liguei as luzes de nevoeiro um par de vezes, só porque estava embaciado, mas não derramei uma única lágrima. Ali estava eu, super motivada para esvaziar o meu saco lacrimal, e, nada!

Deixei o sofá muito contrariada e vim espreitar o computador. Em dia de jogo de Portugal, no facebook alguém linkara um vídeo do euro 2004. Estando a selecção como está, ao ver o vídeo não chorei, é certo, mas emocionei-me bem mais depressa. Fogo, já jogámos tão bem!!

sexta-feira, novembro 13

Sandrão

Os meus dias têm passado como fotocópias - uns iguais aos outros. Tirando um ou outro afazer, pouco ou nada difere.

Todos os dias vejo as mesmas pessoas, tenho as mesmas conversas. A minha distracção, ou por outra, aquilo que me tem posto a rir, têm sido as visitas do Sandrão à minha humilde taberna.

O Sandrão é um brasileiro com nada mais, nada menos, que 2.05m de altura. Rondará os 27, 28 anos e ganha a vida como tratador de cães. Foi precisamente por isso, que o conheci.

Certo dia, ia eu a caminho do meu carro, quando avisto estacionada ao lado do meu, uma carrinha cheia de cães. A guardar a sua porta estava um são bernardo que só nas duas patas traseiras pesa mais que eu por inteiro. Lá dentro, estava ainda um pit bull. Medricas como sou, fiz uma curva de 180º graus para evitar o confronto com o bicho. O Sandrão - que observava ao longe, vê esta cena e resolve "atiçar" o cão que segurava nas mãos, para cima da menina de verde - euzinha. Mordi o isco, entabelou-se conversa.

Mestre e doutourado na arte do engate, o Sandrão conseguiu ludibriar-me numa conversa banalíssima e super inocente, acerca de cães e respectivos comportamentos, fazendo-me perguntas como: "tens cães", para passar para questões bem mais directas e já nada inocentes, como: "porque é que nunca te vi antes", "como é que te chamas" e "como é que faço para te ver outra vez". Touché!

Acho que ri e gaguejei ao mesmo tempo. Nunca vi tamanha manha. E de forma meio inconsequente - pensei eu, recomendei-lhe que visitasse o café mais abaixo, que de vez em quando andaria por lá. Ele não se fez rogado. Tem cumprido, e ultimamente, quase todos os dias lá vai. É que para piorar - e como o mundo é uma alface, o dito é super amigo das manas que lá tenho a trabalhar. Mesmo a calhar.

De súbito, a mana mais velha apressa-se a avisar-me que aquilo é chave de cadeia! Mulherengo que só visto. E a ele, que tire daí o cavalinho que já tenho dono e estou bem coprometida. Ele resigna-se, que remédio. Tudo na paz. Mas não deixa de lá ir, e suspira-lhes - a elas, às manas que sou tão lindaaaaaa, que sou tão perfeitinhaaaaa.

Coitado, tem uns olhos lindos, mas é pitosga que só ele.

De qualquer forma, bem hajas Sandrão, por me fazeres rir e sorrir!

quarta-feira, novembro 11

Surrealismo, s.m.
Discutir, à mesa de jantar, entre uma garfada de bolo e uma sorvidela de vinho, pipis e respectivas formas de depilação com a sogra.

Esquecimento, s.m. derivação masculina singular de esquecer.
Vamos mas é esquecer isto tudo.

domingo, outubro 25

Viver com o meu pai, trabalhar com ele e ter de simultaneamente lavar-lhe as cuecas, está a pôr-me doida!!

quinta-feira, outubro 22

e é isto. sem um aviso prévio ou um bilhete postal, as pessoas morrem sem sequer se despedirem.
haverão
queijadas de cenoura com chocolate para onde ele foi?

sexta-feira, outubro 9

Pronto...

já me sinto muito melhor! obrigado zara, stradivarius e berska, ou vá, já que estou nisto, obrigada inditex!

quinta-feira, outubro 1

Emanuel

Trato-o por você. "Bom dia, diga." E ele também não se descai. "Um café".
Hoje, ao devolver-lhe o troco, a sua mão sapuda roçou na minha. Era macia.
O Emanuel foi meu vizinho. É um homem não bonito, mas talvez exagere se disser que é feio. Nunca gostei dele. Achava-o parvo. Muito parvo. E herdou dos pais a antipatia congénita. Terá pelo menos mais uns 7 anos que eu. Talvez mais. Acho que tem uma filha. Nunca vi. E namora uma brasileira.
Tem a mania de se sentar ao balcão. Fica ali pertinho. Mesmo quando vai buscar o jornal do dia para ler. Irrita-me.
Volta não volta, resolve chegar mesmo quando decido ir tomar o pequeno almoço, e senta-se frente à minha caneca de capuccino que fumega no mesmo compasso em que o meu estômago ronca. E o cretino ali, demorando-se.
Ás vezes, só para o destabilizar tenho vontade de lhe dizer:" escuta lá, sabes que a tua foi a primeira pila que vi?" E foi. Estávamos todos cá fora a brincar. O Emanuel trazia uns calçoes brancos. Armado ao pingarelho resolve empoleirar-se no muro. Preguiçoso, nem vestira cuecas. A dita esgueirou-se para fora, como que a espreitar o mundo.
Aos cinco anos de idade fui confrontada com aquela visão horrorosa. Primeiro ri-me - como os outros, perante o espectáculo de marionetes forçado. Mas lembro-me bem: achei-a feia. Pedaço de carne mal amanhado. Depois fiz um esgar de nojo pior ao que fazia sempre que a minha mãe me dava grão cozido ao almoço. Com bacalhau.
Entretanto, cresci. E algumas coisas mudaram.
O Emanuel, nem por isso.

quarta-feira, setembro 30

quarta-feira, setembro 23

A Bola

Ao contrário da maior parte das mulheres que se queixam de que os seus respectivos ligam mais a um esférico do que a elas, eu não tenho problemas nenhuns com isso.
Rio-me imenso com os disparates que ele grita para o televisor, ou como se revolta ao ver programas desportivos. Gosto que vá à bola com os amigos ou que jogue de vez em quando ao fim de semana. Acho saudável. E sinceramente, antes preste atenção a um só esférico, que a dois metidos em soutien alheio.

Quanto a mim, desde pequena que o som de um relato de futebol me acalma. Não tanto dos nervos, mas é um som familiar, confortável. Adormeci vezes sem conta em casa de um amigo do pai, quando ele ia para lá ver a bola. E apesar de ter um irmão mais novo, sempre fui eu a ver a bola com o meu pai. Desde pequena que me sentava ao lado dele no sofá e o ouvia tecer comentários apaixonados na direcção da caixa luminosa que mudou o mundo. Ainda hoje sou eu quem vê os jogos da selecção com ele. E que, como ele, vocifera impropérios aos jogadores.

É isso, gosto de ouvir a bola. Só não consigo passar a ser do sporting de alma e coração, como o meu homem desejaria. Simpatizo com a causa leonina, mas dá-me infinitamente mais prazer fazer pirraça com ele.

segunda-feira, setembro 14

No outro dia, uma amiga de outros tempos, veio falar comigo no msn. A janela pisca e eu sinto-me logo meio culpada. "Bolas que nunca mais lhe disse nada". "Bolas que nunca me lembro (ou será apetece?) de meter conversa com ela quando a vejo por aqui".
Conversa puxa conversa, pergunta-me como vai a vida, a família, o cão, o gato e as formigas do quintal, e eis que chega ao ponto da conversa que verdadeiramente lhe interessa e que me relembra imediatamente a razão pela qual eu já não lhe ligo nenhuma: "então e ouve lá, por acaso não queres comprar uma bimby, tu que cozinhas mal como ó raio? é que eu agora estou a vendê-las. não? mas se quiseres já sabes, fala comigo primeiro!"
Tsc, é caso para dizer: que amiga da bimby que tu me saíste!!!

sexta-feira, setembro 4

Hoje tive de ir ao banco. Calças rasgadas, alça do soutien à mostra e cabelo que não vê champô há três dias - lá fui eu, falar com o meu gestor de conta sobre uma conta poupança que tenho, e fingir durante 30 min que percebo de facto alguma coisa do que ele me está a dizer.

Eu sou muito básica nesta coisa de bancos. Faço transferências bancárias, deposito dinheiro, pago coisas. Mas quando me tentam falar daquilo que no fundo são os produtos deles e que eles comercializam, e me começam a falar de taxas euribor, spreads, ou percentagens assim ou assado, ponho me em modo boi a olhar para um palácio. Pior mesmo, só quando juntam a isso, as contas. Que com esta percentagem fico com x, e ganho mais y. É que eu tenho 25 anos mas ainda conto pelos dedos da mão.

No que depender de mim, o papelinho que assinei hoje tanto pode querer dizer que mudei o pouco dinheirinho que tenho para uma nova aplicação, como pode querer dizer que o acabei de dar ao dito gestor de conta. Não faço ideia. Enquanto ele fala e enquanto eu não percebo nada só quero mesmo é voltar a ver a porta da rua.

quarta-feira, setembro 2

Esta semana está a correr-me de feição.
Apanhei um escaldão como há anos não apanhava. Estou com um torcicolo. E hoje espetei-me da cadeira, batendo fervorosamente com o cotovelo e o joelho na parede.
Mal posso esperar pelos próximos dias.

domingo, agosto 9

Engate ecológico


Eu: luvas de cozinha, balde do lixo na mão, junto ao ecoponto.
Ele: em trajes de quem vai para a praia, toalha ao ombro. Vira-se e diz: "então, muita reciclagem?"
Eu, em pensamento: wtf?!!

terça-feira, julho 28

Tenho impressão que o alemão gosta de mim. Ele confunde-me toda, baralha-me. Tolda-me o pensamento. É que estou há 5 minutos na Natura com uma das empregadas a olhar para mim e a sorrir-me imenso, e eu não faço a mínima ideia de onde conheço a tipa. É certo, de vez em quando ao fazer refresh à massa verde e bolorenta que compõe o meu cérebro, uma resposta parece surgir, mas depois, nada - branca total novamente. Será uma cliente minha? Deve ser isso. Se calhar conhece-me daí, não sei. Mas não saber se é, ou não, é uma sensação terrível. Sinto-me parva.

Pergunto-me, será que isto também se passa com as putas? Do género, vão na rua e um tipo sorri-lhes, acenas-lhes e os etc's todos. Será que ela se lembra? será que sabe sempre quem já frequentou a sua superfície comercial? É tramado...

quinta-feira, julho 23

O meu fornecedor de doces regionais é um tipo grande, forte, careca e tatuado, que usa t-shirts com frases como esta: "vai uma rapidinha?". fofo, não é?

segunda-feira, julho 20

Lesbianices

Detesto a tipa. É brasileira. Brasileira afamada, daquelas do tipo violão. Todos os dias por volta das cinco da tarde há à vontade uns 30 homens ao balcão a babarem os litros de cerveja que entornam como pretexto para olharem para ele: o rabo.
Este não é um rabo qualquer, não. Uma nádega dela é o meu rabo inteiro. E depois ela não anda com os pés, anda impulsionada pelo movimento do rabo. Não sorri, nem diz bom dia ou boa tarde, porque o rabo está muito ocupado a fazer isso tudo por ela.
Que não hajam mal entendidos. Não gosto dela porque é antipática, e não porque tenha inveja dele, o rabo.
Mas o que eu detesto realmente é o facto de também eu, ou nós - visto que à rapariga que trabalha comigo acontece-lhe o mesmo, mas dizia eu, detesto o facto de não conseguir desviar o olhar daquelas ancas proeminentes, qual íman qual quê, o meu olhar desce uns bons 90º em ângulo recto sempre que ela passa. Esforço-me por lhe olhar para a cara, mas não adianta. De tão grande e redondo que é, dá vontade de tocar, de ver se é verdadeiro, saber qual é a sensação , a textura.
Intrigada por tal fenómeno, a rapariga que trabalha comigo, passou uma noite inteira a espreitá-lo, a ele, o rabo. Concluiu que não há ali gordura nenhuma, não há ali celulite, não, é puro músculo. Tudo saúde. E aí sim, suspirámos de inveja as duas.

sábado, julho 18

neighbours

13h30. Entra o casal dos cafés escaldados, o dele é cheio, o dela é curto. trocamos dinheiro e dois dedos de conversa. 13h50. chegam os simpáticos irmãos gémeos que eu não consigo distinguir. 14h15. entra o cliente que diz que eu tenho pedigree. às 15h15 ele terá certamente uma cadela, tal é a velocidade a que entorna super bocks. 15h30, entra o nosso cliente carochinha, o que tenta casar com tudo, pão de cereais incluido. às 16h, entra o aparício que vem cá beber cervejas e treinar o zoom in, zoom out ao rabo da minha empregada. 16h10, a vizinha que leva muitos bolos. às 16h30, à falta dos efeitos de fumo, varre-se o chão, onde entre mais pó e menos pó, desfila a avó mais sexy que por aqui há. 17h10, serve-se um café ao senhor que nunca diz nada, vive na casa ao lado, e cujos estores estão sempre para baixo - pergunto-me se tem uma cave. já nas 18h00, é a vez do casal que nunca fez sexo. têm duas filhas. um garoto sem espuma para ela, a espuma dos dias no fino dele. 18h15, ginga as ancas o playboy do prédio. 19h00, entram as minhs meninas, jogo às escondidas com elas, enquanto falo com os pais. 19h10. porra! esqueci-me de comprar cebolas. um pulo até às 19h30, roda o barraco a filha de chelas. no silêncio das 20h entram os meninos de farda. sirvo-os sem lhes fitar os olhos. tenho vergonha que me vejam corar. às 20h30 estremece-me o coração em surpresa. amigos. 21h00, pergunto-me o que fhei-de fazer para jantar sem alhos e cebolas? 21h30, risos e gargalhadas. 21h35, tempo para uma fatia de torta de chocolate. às 21h40 exclama-se aleluia - a vizinha da frente traz-nos um saco de cebolas da sua horta. às 22h00, fecha-se a porta.

sexta-feira, julho 10

Não fui abençoada com um bom par de mamas. Na verdade quase não chego a ter o par. Não tê-las é coisa que também não me perturba muito, é certo. Mas a nível de trabalho sinto que perco imenso. Um bom par de mamas encerra em si o verdadeiro significado de diplomacia, ou vá lá, de corpo diplomático pelo menos.
Umas glândulas mamárias fartas são capazes de apartar qualquer tipo de conflito. Por outro lado, não será arriscado afirmar que seios há, exímios em negociação - ou não conhecemos todos, decotes que figuram em quadros empresariais por mérito próprio?
Eu, delas não me poderei fazer valer. A triumph jamais será minha empregadora e a maxmen nunca me vai pôr a saltar à corda.
Em mim, seios inflamados, só mesmo os paranasais. Mas não há sinusite que faça virar cabeças. E, contra mamas, não há argumentos.

segunda-feira, junho 29

A família adams

A míuda. Chama-se Maria. Por detrás dos óculos fundo de garrafa, os seus olhos esbugalhados fitam-me, enquanto sorri com todas as migalhas que tem no fundo e nos cantos da boca e me espeta a palma da mão aberta à frente do nariz procurando indicar-me a sua idade. 5 anos. pois então. Há 5 anos que a Maria mostra porque é que o melhor do mundo são as crianças e as papoilas em excesso que o lambão do Fernando papou quando disse tal disparate.
Nunca a vi de touca, mas aposto que isto é criança dada à natação. De cada vez que ela me vai ao wc, tenho de ir à despensa buscar as barbatanas. Também pode ter a ver com aquela parte da religião e moral em que se fala no Moisés, não nego, também pode ser isso. A Maria é o Moisés dos lavatórios de casa de banho.
Quando ela crescer há-de ser engenheira informática, tal é a mania dela de me tentar destruir o computador, a terroristazinha.

Depois o irmão. Um subnutrido de cento e tal quilos. Tem sempre aquele ar fresco de quem acabou de acordar e passou a noite inteira a sonhar com donuts de morango. Tem uma melena preta e farta, cheia de uns caracóis, look "choque de tomada". De resto, iguaizinhos aos da mãe. O pai já não. É mais complicado definir o seu hair style. Ele não chega a ser careca, mas também não chega a ter cabelo. É um homem com cabelo cor de rato, com um rosto de traços albinos, e cuja roupa sofre de anemia crónica.

Amam-se loucamente. São um casal quente, que ao fim destes anos todos ainda não perdeu fogosidade. Entre uma sorvidela de meia de leite ou uma dentada na torrada, espetam uma beijoca, ás vezes só mesmo uma festinha no rosto barrada a manteiga. Gresso. Meio gorda. São românticos. Entrelaçam as mãos, e olham-se nos olhos, mediados pelos fundos de garrafa dela - que a Maria tem a quem sair. No outro dia, já fora de portas e ao virar a esquina, vi. Passou-lhe a mão, muito ao de leve, pelo rabo.

Aposto que entre quatro paredes, quando nus, ele lhe fita os seios em forma de pêra, e num assomo de paixão e bom humor, salta para cima da cama e lhe canta isto:


http://www.youtube.com/watch?v=-xxET6687cQ

domingo, junho 14

Celulite

Maria deu à luz Jesus Cristo - o salvador. Já eu, decidi que se algum dia for mesmo para parir, ao menos que seja para parir o exterminador da celulite. Que se salvem todas as coxas, amem!

Não me cabe na cabeça que se ponham homens na lua, se curem cancros, e se façam operações de mudança de sexo, transformando homens em mulheres e não se consiga acabar de vez com esta erva daninha, esta praga que é a celulite.

E depois há outra. Então admite-se que uma pessoa que é mais magra que um taco de baseball tenha celulite poro sim, poro não?, que o rabo tenha sido tomado de assalto por células adiposas metidas à ocupas, que não pagam renda, luz ou água? Pode-se lá aceitar que esta ditadora latinfundiária faça o que quer sem encontrar oposição? Onde é que está o Conan da celulite? a Xena, os power rangers e action men que combatem esta força do mal? Venham todos! Acudam-nos por favor.

segunda-feira, junho 8

O verbo comer

Numa cafetaria, o que não falta são coisas que se comam. Contudo, receio que dois dos meus funcionários tenham começado a levar isso demasiado a sério, porque, ou já se comeram, ou estão prestes a comer.

sexta-feira, maio 29

Tirar cafés

Tive uma colega na faculdade que dizia que não andava a estudar para depois ir tirar cafés. Não interessava que fosse estagiária ou estivesse em início de carreira, não o faria. Tirar cafés seria humilhar-se, rebaixar-se.

Nunca mais soube nada dela, ou do livro que lhe emprestei. Não sei quantos cafés terá tirado desde então, ou se os tirou - até porque ela fez o percurso inverso, e em vez de a chatearem para ir buscar café, chateia ela as pessoas ligando-lhes para casa em nome dos chatos do citibank. Mas lá está, cumpriu. Não tira cafés.

Tirar cafés é uma actividade mal vista. Pouco nobre, nada conotada com inteligência. Reles. Fácil. Ninguém precisa sequer de saber ler para carregar no botão certo. E eu confesso que também sempre pensei assim. Por Zeus, que ciência pode haver em tirar um café?
Por ironia do destino ou não, quem, como eu, se vê a braços com a gerência de uma cafetaria, mais tarde ou mais cedo, acaba por ter de tirar cafés. E parece que eu estava enganada, há realmente algo que distingue um café de outro.

Dizia-me uma cliente no outro dia - enquanto me parabenizava pelo café de 5 estrelas que lhe tinha servido, que ao contrário do que eu afirmava, não basta carregar no dito botão. Segundo ela, para conseguir um bom café, não basta seguir todas as intruções da máquina: colocar as quantidades exactas a serem utilizadas, obedecer aos procedimentos , seguir a ordem indicada; porque enquanto ela o faz, a filha - que a nada disto obedece, consegue sempre tirar um café infinitamente melhor que o dela. Quem tira faz a diferença, afirma. Sorrio e agradeço, mas convencida não fiquei.

Adiante. Nova cliente, desta feita é um galão que me pedem. Sirvo-lhe. Pede-me outro em seguida, "igual a este se faz favor, porque este estava tão bom". Franzo a testa. Estará tudo maluco? Repito, só carrego no botão. Junto café com água ou leite, nada mais.

Uma outra ainda, reclama a minha presença nas manhãs. Todas as manhãs. Quer que seja eu a servir-lhe o pequeno-almoço, diz que eu já sei como ela gosta do galão. As quantidades exactas do café, nem de mais nem de menos, a temperatura certa.

Encolho os ombros e rendo-me às evidências, ok, parece que sim, que há diferenças, e parece que sim sou boa a tirar cafés. Será que serve para me enaltecer o CV?



sábado, maio 23

O mundo é um bidé

Ando virada para as modernices. Não quis ficar atrás da Alberta Marques Fernandes, e pimbas, vai de criar conta no twitter. Ela recebeu o tal hambúrguer, mas eu estava a ver se me safava com um televisor ou uma cómoda do ikea - que são coisas que até me estão a fazer alguma falta.

Entre blogs, twitter, facebook e mails, desdobro-me numa esquizofrenia electrónica, e à boa maneira pessoniana, continuamente sou eu e continuamente me estranho.

No facebook - a melhor fonte de testes parvos do planeta, adicionei há tempos um colega da primária. Só porque sim. Porque de lá para cá não troquei uma única palavra com ele. Mas está lá, a fazer número. E no outro dia, tive de aceitar meio a contragosto, o pedido de amizade de um ex namorado - o que é uma chatice, porque honestamente quem é que quer andar a seguir ex-namorados?! Ainda para mais quando foram daqueles de quem nos custámos a livrar.

Mas o facto é que estamos cercados. Toda a gente se conhece neste quintal à beira mar plantado. Ou conhece alguém que por sua vez nos conhece a nós. Não é de admirar que nunca, mas nunca, tenha conhecido alguém verdadeiramente novo através destas redes sociais. E os tarados não contam, porque esses são logo bloqueados. Andamos sempre a tropeçar nas mesmas pessoas. Se não soubesse melhor, diria que o planeta terra é na verdade uma qualquer caderneta em que nos saem sempre os mesmos cromos e onde ninguém tem novos para a troca.


Este pensamento aborrece-me de morte. Vem-me à memória aquele filme em que o Bill Murray vive vezes sem conta o mesmo dia, o Groundhog Day ou a aldeia global do Marshall McLuhan. Nem na Conchichina se consegue escapar.

Uma pessoa, que a dada altura conheça alguém com quem não vá à bola, e que por acaso - num daqueles autoclismos de consciência libertadores, lhe calha a dizer das poucas e boas, habilita-se mais tarde ou mais cedo a reencontrá-lo. Como chefe, colega de trabalho, administrador de condomínio, como dentista ou pior ainda, como ginecologista.

Claro que nem tudo é mau. O twitter, por exemplo, permite-me entabelar conversações com o Ashton Kutcher, e isto, até há bem pouco tempo atrás seria praticamente impossível.

segunda-feira, maio 18

Estive a pensar e cheguei à conclusão que levo já uns 16 anos de "carreira" nisto de ser taberneira. O meu avô paterno tinha uma daquelas metade mercearia, metade taberna, em que tudo se pedia ao balcão, desde 1kg de açucar, a tripas de porco. Do alto dos meus nove anos de idade, consta que era especialmente boa a engrupir velhos. Vendia-lhes de tudo, mas o meu forte mesmo eram umas rifas que as pessoas compravam para ver se lhes saíam prémios tão catitas como relógios de parede ou canivetes suiços. Isso e bolachas. Também vendia muitas bolachas.

Consta ainda que era uma cusca do piorio. Dava conversa às pessoas e perguntava-lhes de tudo um pouco - em cinco minutos ficava a saber as árvores genealógicas daquela gente toda. Escusado será dizer que este traço da minha personalidade causou alguns embaraços aos meus progenitores.

Desde que virei taberneira, este lado, esta lata, voltou como que por magia. Tenho muita lata. Mas da boa. Não impinjo nada a ninguém, muito menos falo bem de um produto se não gostar dele. Nem sempre me corre bem, mas acima de tudo, procuro não me impôr, não ser inconveniente. Mas no geral, acho que me posso gabar de saber ler bem as pessoas. Equilibro sensibilidade com simpatia e sentido comercial. Sei ver quem está ali para não ser incomodado, e quem, se pudesse, nos contava a vida toda.

A lata é no fundo uma arma. A minha arma. Uso-a, quer para me esquivar a perguntas pessoais, quer para evitar os desagradáveis silêncios que se instalam entre as pessoas. Antecipar-me ao outro, permite-me não responder a perguntas pessoais de qualquer espécie. Centra-se a atenção nos outros e nós passamos despercebidos. Quanto aos silêncios, detesto-os. Esmagam-me. Digo qualquer disparate, só para não sentir o seu peso.


quarta-feira, maio 6

O mundo divide-se entre as pessoas que dizem café e as que dizem cafézinho. Tristemente, ando a resvalar para o segundo grupo. Um funcionário meu pegou-me essa mania de tanto que ele repete "é um cafézinho?". Mas podia ser pior. Felizmente ainda não me deu para dizer bolinho, suminho e outros inhos que tal.

Tenho aprendido também, que não se deve dizer: "é mais uma cerveja?", sob pena de se ofender os bêbedos. Em matéria de bebidas alcoólicas, mais é palavra proibida. Mas se for mais um café, já se pode. O que me leva a outro assunto, ou ao assunto. O eco.

Nos cafés e coisas que tal, repete-se muito o que os clientes pedem, o que eles nos dizem. Tem lógica, se pensarmos que estamos a ajudar o cérebro a registar os vários pedidos que nos são feitos, a memorizar. E eu já dispenso bem o bloco de notas, quando dantes era impossível viver sem ele. Estou muito mais ágil em termos de memorização. Mas felizmente não vou tão longe como uma funcionária minha, que não só conhece as pessoas em função dos pedidos que eles lhe fazem, como às vezes inicia conversas comigo do género: " sabes o senhor da mesa 12, o que pediu pão torrado e um sumo de laranja, e a mulher pão aparado, torrado só de um dos lados e o filho não comia queijo porque era alérgico, sabes?" - e eu digo que não, e ela diz-me: "esqueceu-se cá de uma coisa", ou "ele gostou muito das nossas empadas de galinha. "

Mas dizia eu, o eco. Se excluirmos este pormenor da memória, esta coisa de repetirmos as últimas palavras dos nossos clientes é profundamente irritante, porque das duas uma, ou parecemos um bando de gente surda que não ouve nada à primeira, ou um bando de maluquinhos que repete tudo o que os outros dizem. O próprio sufixo inho presente no cafézinho e no obrigadinho (eu ainda não estou neste nível, no nível do obrigadinho) é no fundo um eco, prolonga a palavra, perpetuando-a por mais tempo no espaço.

Mas se o eco ainda se engole, esta coisa do inho, para além de parvo, acaba por parecer uma forma de gozo ou desrespeito para com o cliente, porque os diminuitivosinhos são coisa de bébés. De bébés, ou de namorados. E eu não quero que nenhum cliente se atire para o meu colinho.

segunda-feira, abril 27

Isto não sai daqui

Já perdi a conta à quantidade de vezes que alguém me contou alguma coisa pedindo que aquilo não saísse dali, que não contasse a ninguém. O problema é que sai sempre, ou quase sempre. Eu própria já fiz o mesmo, pedi que não saísse dali e tenho a certeza que saiu. É uma espécie de acordo tácito. Dizemos aquilo para que a pessoa não espalhe aos quatro ventos o que lhe vamos contar, dizemos isso, sobretudo, para que não espalhe às pessoas focadas ou a elas relacionadas. Dentro da medida do possível, tenta-se que o conteúdo da nossa mensagem não tenha livre-trânsito para todos os ouvidos. De resto, estou convencidíssima que aquilo que não queremos realmente que saia dali, só contamos a nós próprios.

quarta-feira, abril 15

Ódios de Estimação

Lembro-me tão bem da minha primeira vez. Estava na festa de anos da Ana Isabel. Lembro-me de a ver entrar, olhá-la nos olhos e aperceber-me ali, naquele preciso instante algo a mudar em mim, lembro-me de dar comigo embasbacada a pensar: "Deus meu, como odeio esta tipa". E zás, num segundo decidi que ia odiá-la para sempre com todas as minhas forças. A personagem era a prima da dita Ana Isabel. Na altura eu tinha 7 anos, hoje tenho 25 e de cada vez que a vejo continuo a ter vontade de lhe fazer pinturas rupestres no focinho.
Claro que ao longo da vida fui coleccionando outros ódios de estimação, alguns são viscerais, outros são só porque sim. Por exemplo: grão cozido, pastilhas com sabor a canela, o Cláudio Ramos, os novos ricos, a Margarida Rebelo Pinto, políticos no geral ou o Paulo Portas em particular, criancinhas insolentes, a Scarlett Johansson, os betos de Cascais, as pessoas que dizem fizestes, pensastes, gostastes, cerveja, os nojentos dos gafanhotos, metrosexuais, a moda da depilação integral aos pipis e por último, mas não menos importante, karaoke.
Mas na verdade isto de se odiar algo, isto do acto de odiar, pode ser encarado como um desporto. Uns odeiam só ao domingo, outros, religiosamente todos os dias odeiam alguma coisa. O ódio é a Bimby das emoções. É fácil, barato, só não dá os milhões.
Há contudo uma subdivisão dos ódios, há escalas. De um lado temos os ódios grandes, os irados, os ódios revolucionários, os verdadeiramente apaixonados - ódios da maior utilidade possível, os que são protagonistas de todas as grandes mudanças que ocorreram no mundo , como a revolução dos cravos por exemplo, com o seu ódio ao fascismo; do outro lado, temos os ódios pequeninos - os tais de estimação, que existem mais numa vertente existencialista, focando-se na personalidade dos indivíduos numa espécie de "diz-me o que odeias e eu dir-te-ei-quem és".
É disso que se trata, saber quem é beltrano ou fulano em função daquilo que odeia. Nada de novo, aliás. Samba, toda a gente sabe que quem não gosta de samba..."bom sujeito não é. Ou é ruim da cabeça ou doente do pé. " Toda a gente sabe que quem não gosta de animais nem de crianças, boa pessoa não é. E eu não sei se toda a gente, mas eu pelo menos sei que não faz sentido não se gostar de queijo, tomate ou chocolate. Que não achar piada à lingua italiana é de uma falta de gosto inenarrável. Não achar que o Johnny Depp, o Brad Pitt, o Santoro e o Hugh Jackman são deuses do olimpo, é uma outra forma de cegueira. E por aí adiante.
Mas vá, os ódios de estimação. Sim, que sentido maior há neles? é simples. Os ódios fazem-nos companhia, distraiem-nos. E mais, têm a supra-função de nos proteger. E protegem-nos do quê? Protegem-nos não de todo o mal, mas de todo e qualquer tipo de marasmo, porque existem sempre planos a serem engendrados com base nas coisas que se odeiam. Concretizando: A aspirina nasceu do ódio de alguém à desculpa da dor de cabeça, o teste de ADN, do ódio ao carteiro.


quinta-feira, abril 9

A lei da compensação

Faço parte daquela parte da população que quando se senta a uma mesa para contar episódios engraçados da sua existência os outros resolvem levantar-se. Principalmente, se já tiverem comido a sobremesa. Não os culpo. Mas na tentativa de não me culpar a mim - o que seria desagradável, culpo os meus pais, por não terem sabido ensinar-me melhor.
Não fui eu que matei animaizinhos indefesos em pequena, nem que andava à estalada com os vizinhos, não era eu que tinha as quedas mais espectaculares e aparatosas, das que dão gosto contar depois. Nada, nunca era eu. Eram os meus irmãos. O máximo que consegui foi partir um jarrão enorme numas férias no Algarve. É o único episódio que é comentado. Isso e os meus desmaios, sempre fui muito dada a desmaios. O que aliás denota bem a minha veia dramática, porque me permite enfatizar a minha trágica existência, a sensibilidade à flor da pele.
De resto, ridículamente bem comportada. Na escola, o mesmo. Sempre os prémios de melhor comportamento. No liceu não fui mais esperta. Em vez de me poder começar a gabar dos rapazes que já tinha beijado, não, durante meses, o episódio mais emocionante que tive para partilhar, foi ter tido a minha casa assaltada enquanto tomava banho de porta aberta e ouvia música em altos berros.
Enfim. Mas e a culpa é dos pais porquê? Porque nos vêm com aquela treta de que as boas acções são sempre recompensadas. Que nos devemos comportar bem para sermos meninos bonitos. Ora a verdade nua e crua é que essa treta de sermos recompensados só foi verdade até à primária e pouco mais, em que se nos portávamos bem não eramos castigados, e como tal não nos era vetado o direito a gozarmos o recreio. De resto é das maiores mentiras que se contam (principalmente porque ninguém fica mais bonito por se comportar bem, e as pessoas mais interessantes são sempre as mais sacanas - perguntem aos homens ditos cabrões, há anos a construir reputação, e amplamente preferidos aos santinhos e bons samaritanos).
No campo do trabalho é a mesma coisa. As pessoas mais baldas e incompetentes são o quê? Precisamente. São recompensadas. Vão para casa a tempo e horas porque já sabemos que não servem para nada de qualquer forma; nunca lhes é pedido que salvem uma situação, porque não se espera nada brilhante da parte delas; não sacrificam fins de semana, nem têm de fazer directas. Nada. Um descanso. Ah, sim, as vozes dos que procuram serenar-nos vindo dizer que eles também nunca ganham muito dinheiro. O problema é que nem isso é verdade. Há muitos incompetentes pagos a peso de ouro que em momento algum seguram batatas quentes, descalçam botas ou têm de aprender a descascar abacaxis.
Agora, conlicença que vou ali desmaiar e já volto.

quinta-feira, abril 2

O Estado ama-me

Estava a ver que não. Fomos finalmente assaltados! E em grande estilo. Tamanho aparato, nem quando a Madona cá esteve. Ainda pensei chamar a polícia, mas eles estavam ocupados a escoltar os ladrões - que bem precisam de protecção, uma vez que como todos nós sabemos, viram a precaridade das suas condiçõs de trabalho aumentar exponencialmente depois que o acesso ás armas de fogo foi, por assim dizer, facilitado.

O chefe do gang, quanto a mim é que foi mal escolhido. Era meio caga tacos. Não tinha mais que 1.50m e tinha tomates do tipo chery, que lhe causava um problema de défice de atenção e focagem, fazendo com que não me conseguisse olhar nos olhos, coitado. Eu sempre ouvi dizer que é de bom tom mostrarmos respeito e carinho enquanto fodemos os outros, mas às vezes é problema de saúde e não de carácter. Compreende-se.

Agora não lucraram lá muito. O roubo, em principio nao deve ir alem dos 500€ e a dividir por aquela gente toda, é coisa que não paga nem um jantar no Tavares, o Rico.

Aqui há tempos disseram-me que comprasse um sapo para me proteger dos ciganos. Não sei bem porquê, mas eles não entram em sítios que tenham sapos - vivos, de loiça, etc, desde que sejam sapos - não gostam. Mas agora, para me defender dos tipos das Finanças não sei bem o que tenho de comprar. Não tenho o telefone do Isaltino, muito menos dos sobrinhos da suiça. A Fatinha estava no salão a fazer madeixas e o tio do BCP acho que ia agora para o Brasil. Não sei quem me há-de valer sinceramente.

Estes tipos são lixadíssimos. Não sabem relaxar, e por mais que a gente lhes dê - e Deus bem sabe que damos muito, nunca ficam contentes. Por isso é que os papalvos que vão para ministros nunca querem ficar com a pasta que a Manuela Ferreira Leite tão bem defendeu e representou. É que pastas frígidas dão o dobro do trabalho, e por mais pinos e cambalhotas que se dê para tentar levar as coisas a bom porto, do rótulo de incompetentes já não se livram. Nem mesmo o esforço que fazem lhes é reconhecido.

Se formos a ver, as finanças são como aquelas tipas ou tipos frustradissimos na vida, que depois, têm como único consolo do redondo falhanço que é a sua existencia, tentarem tornar a existência dos outros igualmente patética. E nem é bem isto. No fundo é puro altruísmo, gostam de dar o que de melhor têm. São antes generosos na retribuição da sua frustração pelos outros. é isso.

Para me safar disto, e fugir a esta máfia organizada, ainda podia ver se subornava alguém. Mas já vi que ia ser complicado, tudo gente invejosa. Teria que subornar logo mais dois ou três. Ficava-me na mesma quantia, ou mais ainda. Por isso tive uma ideia melhor. Acho que vou criar uma daquelas correntes via e mail que os portugueses tanto gostam e que até parece resultar. daquelas que se criam para ajudar fulano com cancro, ou fulana cujo filho tem uma doença esquisita. Desde que as pessoas se identifiquem com a causa, tenham pena do sofrimento dos outros, e vejam que há falta de apoios, é certo e sabido que aderem.
Acho que vou ter sucesso.

quarta-feira, abril 1

Chefe mas pouco

Em Portugal há um ditado que reza o seguinte: "patrão fora, dia santo na loja". Trocado por miúdos, significa basicamente que quando o chefe se ausenta, estica-se a preguiça entre as 9h e as 17h, e empurra-se o trabalho com a barriga.
A motivação é matéria prima escassa por terras lusas. Normalmente recorremos à importação. Mas percebe-se. Somos um povo fatalista, povo do fado, um povo que sofre, que é sensível, e que , ao contrário do que se possa pensar, é profundamente existencialista. Não somos como os outros, não. Nós questionamos muito mais que o sentido da vida. Questionamos: "porque me hei-de levantar de manhã?, porque é que hei-de limpar algo que se vai sujar outra vez, porque me hei-de esforçar mais? qual o sentido disso, qual o objectivo? aonde me leva?". Enternecedor.
Mas ambiciosos, isso somos. Desde que não dê muito trabalho, batemos todos os rankings em ambição. Desde a Dr.ª Lurdes, empregada doméstica, casada com afamado canalizador, e que ambiciona ser 1ª dama, comportando-se como tal todos os dias (só para treinar); passando pela Drª Sofia - uma Educardora de Infância que trabalha umas boas 3 horas por dia, e cujo grande sonho é pertencer ao jet set, para ser importante a valer e lhe oferecerem umas maminhas novas como as da Maya; terminando no Dr.º Ricardo, que serve hámburguers no Macdonalds, é feio de verdade e que sonha vir a substituir o Hefner na mansão da playboy, trocando os bifes por mónicas sofias.
Mas o maior sonho de todos, o mais acalentado por todos é mesmo ser patrão. Mandar nalguma coisa. Isso é que era. Trabalhar só quando nos apetece, ter montes de dinheiro, mandar os outros fazer o que não gostamos, ser automaticamente respeitado, em suma: subir na vida.
Eu já subi na vida. Por isso agora o que eu gostava mesmo era aquela parte de fazer só o que eu quisesse, de mandar os outros fazerem o que eu não gosto, e principalmente aquela parte do ter montes de dinheiro. Era bem catita!


segunda-feira, março 23

Ignorância - a melhor das santas

Cogito, ergo sum. Ou, por outras palavras: penso, logo existo. Na veracidade desta frase de Descartes começam todas as nossas dores de cabeça.
O problema nem é tanto existir, mas sim o facto de pensarmos. Pensar é um desperdício de tempo. Coçar a micose - um acto tão mal visto entre nós, ao menos tem o propósito de aliviar a comichão, já pensar, pode ser perigoso. Nunca se sabe o que pode acontecer depois disso.
Durante anos os homens tentaram proteger as mulheres desse acto nefasto, oferecendo-lhes vassouras em vez de livros. Porque sabiam que com as vassouras o chão aparecia limpo, ao passo que com os livros elas começavam a desejar coisas - e ter desejos dá um tipo de comichão muito mais dificil de resolver que a comichão das micoses. Ao inicio talvez desejassem apenas um aspirador, ou mais tarde uma empregada a dias, mas no fim acabavam por concluir que um outro homem é que as satisfazia realmente, e isso causou alguns problemas.
Ora, se só podemos pensar naquilo que conseguimos de algum modo concretizar, defendo que quanto mais desconhecermos ou ignoramos, mais felizes seremos. Um corno por exemplo, será feliz uma vida inteira se nunca lhe disserem nada. Um pobre será feliz se não souber que pode ter mais dinheiro, o tipo que vai para a praia torrar todo o dia, será feliz se não se lembrar do cancro de pele, e por aí a fora.
E se é verdade que a ignorância pode contribuir em muito para a nossa felicidade, também é verdade que é uma arma fortíssima para atingirmos um estado zen de paz espiritual - pelo menos se, como eu, se trabalhar atrás de um balcão.
Ignoro mexericos (os que não me interessam para nada), ignoro os clientes mal educados (ofendo-os mentalmente), ignoro os tipos asquerosos que se fazem a mim, tento ignorar os bonzões que causam taquicardias, ignoro os funcionários (mas às vezes apetece-me partir-lhe os bracinhos), ignoro.
Só vou aos arames é se me ignoram a mim.