sexta-feira, dezembro 18

People are like wardrobes


De cada vez que tento arrumar o meu guarda-roupa na tentativa de eliminar aquilo que já não uso, debato-me com o mesmo problema: o que deixar de fora?

Tenho peças com mais de 10 anos que não consigo eliminar nem por nada. Essencialmente por motivos práticos: continuam úteis.

Tenho outras que quase nunca uso, mas que teimo em achar que lhes posso dar uma segunda oportunidade, que às vezes chega, e às vezes não.

Vergonhosamente também tenho nos meus cabides peças por estrear, momentos de encantamento têxtil à frente de um espelho num provador de loja, em que se trocam juras de amor e instruções de lavagens, murmuram-se "faço-te e aconteço-te's", mas que depois não passam disso. São paixões crónico-platónicas: só sobrevivem atrás de biombos (graças a Deus ontem tive juízo e não comprei aquela mini-mini saia que vi na Zara, e que provavelmente não usaria em mais lado nenhum, a não ser para ir do quarto até à casa de banho, embora, diga-se em sua defesa, me ficava deveras bem).

Agora roupa que nunca usei, recuso-me a dar. Tenham lá paciência! Vejo a coisa mais ou menos numa lógica de amortização do custo, isto é, se compro um casaco e ele me custa 50€, basta que o use duas vezes e é como se passasse a ter custado só 25€ e por aí adiante. Estúpido? Talvez, mas também não é para ter lógica.

A roupa reflecte a nossa personalidade. É uma extensão de nós próprios. Normalmente é nos apontado um determinado estilo - ou falta dele, tal como nos é apontada uma determinada maneira de ser. Somos um aglomerado de vivências que têm ligação directa para as nossas gavetas e armários.

Exemplo? Tenho um red hot dress, de costas abertas à espera de ser usado - e que há pouco tempo seria incapaz de comprar, quanto mais usar, e por outro lado continuo a usar um casaco de malha largueirão e velho que era da minha mãe. Meaning? Que me tenho sentido progressivamente melhor na minha pele, mas que ainda escondo e protejo bastante.

Parte da roupa que tenho há 10 anos reflecte traços de personalidade que mantenho. Parte da roupa nova que tenho, reflecte aquilo em que me estou a transformar, e aquela roupa que uso e re-uso vezes sem conta representa as minhas principais características.

Próxima compra? Galochas. Quero expressar a minha comicidade em borracha.



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