quarta-feira, maio 6

O mundo divide-se entre as pessoas que dizem café e as que dizem cafézinho. Tristemente, ando a resvalar para o segundo grupo. Um funcionário meu pegou-me essa mania de tanto que ele repete "é um cafézinho?". Mas podia ser pior. Felizmente ainda não me deu para dizer bolinho, suminho e outros inhos que tal.

Tenho aprendido também, que não se deve dizer: "é mais uma cerveja?", sob pena de se ofender os bêbedos. Em matéria de bebidas alcoólicas, mais é palavra proibida. Mas se for mais um café, já se pode. O que me leva a outro assunto, ou ao assunto. O eco.

Nos cafés e coisas que tal, repete-se muito o que os clientes pedem, o que eles nos dizem. Tem lógica, se pensarmos que estamos a ajudar o cérebro a registar os vários pedidos que nos são feitos, a memorizar. E eu já dispenso bem o bloco de notas, quando dantes era impossível viver sem ele. Estou muito mais ágil em termos de memorização. Mas felizmente não vou tão longe como uma funcionária minha, que não só conhece as pessoas em função dos pedidos que eles lhe fazem, como às vezes inicia conversas comigo do género: " sabes o senhor da mesa 12, o que pediu pão torrado e um sumo de laranja, e a mulher pão aparado, torrado só de um dos lados e o filho não comia queijo porque era alérgico, sabes?" - e eu digo que não, e ela diz-me: "esqueceu-se cá de uma coisa", ou "ele gostou muito das nossas empadas de galinha. "

Mas dizia eu, o eco. Se excluirmos este pormenor da memória, esta coisa de repetirmos as últimas palavras dos nossos clientes é profundamente irritante, porque das duas uma, ou parecemos um bando de gente surda que não ouve nada à primeira, ou um bando de maluquinhos que repete tudo o que os outros dizem. O próprio sufixo inho presente no cafézinho e no obrigadinho (eu ainda não estou neste nível, no nível do obrigadinho) é no fundo um eco, prolonga a palavra, perpetuando-a por mais tempo no espaço.

Mas se o eco ainda se engole, esta coisa do inho, para além de parvo, acaba por parecer uma forma de gozo ou desrespeito para com o cliente, porque os diminuitivosinhos são coisa de bébés. De bébés, ou de namorados. E eu não quero que nenhum cliente se atire para o meu colinho.

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