segunda-feira, maio 18

Estive a pensar e cheguei à conclusão que levo já uns 16 anos de "carreira" nisto de ser taberneira. O meu avô paterno tinha uma daquelas metade mercearia, metade taberna, em que tudo se pedia ao balcão, desde 1kg de açucar, a tripas de porco. Do alto dos meus nove anos de idade, consta que era especialmente boa a engrupir velhos. Vendia-lhes de tudo, mas o meu forte mesmo eram umas rifas que as pessoas compravam para ver se lhes saíam prémios tão catitas como relógios de parede ou canivetes suiços. Isso e bolachas. Também vendia muitas bolachas.

Consta ainda que era uma cusca do piorio. Dava conversa às pessoas e perguntava-lhes de tudo um pouco - em cinco minutos ficava a saber as árvores genealógicas daquela gente toda. Escusado será dizer que este traço da minha personalidade causou alguns embaraços aos meus progenitores.

Desde que virei taberneira, este lado, esta lata, voltou como que por magia. Tenho muita lata. Mas da boa. Não impinjo nada a ninguém, muito menos falo bem de um produto se não gostar dele. Nem sempre me corre bem, mas acima de tudo, procuro não me impôr, não ser inconveniente. Mas no geral, acho que me posso gabar de saber ler bem as pessoas. Equilibro sensibilidade com simpatia e sentido comercial. Sei ver quem está ali para não ser incomodado, e quem, se pudesse, nos contava a vida toda.

A lata é no fundo uma arma. A minha arma. Uso-a, quer para me esquivar a perguntas pessoais, quer para evitar os desagradáveis silêncios que se instalam entre as pessoas. Antecipar-me ao outro, permite-me não responder a perguntas pessoais de qualquer espécie. Centra-se a atenção nos outros e nós passamos despercebidos. Quanto aos silêncios, detesto-os. Esmagam-me. Digo qualquer disparate, só para não sentir o seu peso.


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